domingo, setembro 23, 2007

Subprime





O actual contexto do mercado financeiro internacional introduziu no nosso dia a dia um novo termo, o subprime. Termo inglês que define a expressão portuguesa “crédito de alto risco”. Esta expressão tem o conteúdo literal para quem cede o crédito e significado de aprovação de crédito para alguém com problemas de liquidez, ou com historial de incumprimento, ou com grande probabilidade de bancarrota.

A crise do subprime surge com a falta de dinheiro por parte dos bancos para poderem conceder este tipo de crédito. Depois do aumento dos números de casos de insucesso no mercado americano do subprime, com o aumento das hipotecas accionadas, o que era numerário para os bancos passou quase subitamente a imobilizado, deixando-os sem capacidade de resposta para os novos pedidos de crédito e colocando assim os mercados financeiros perante uma crise de fundo devido uma razão curiosamente anormal no segmento bancário: a falta de dinheiro.

O (“FED – Federal Reserve” ou em português Reserva Federal), Banco Central dos Estados Unidos, entidade cuja actuação é tida como indicativa para diversos bancos centrais mundiais, sendo o dólar ainda a moeda de referencia em muitos deles, e cujas tendências, devido à importância da economia americana, são também elas seguidas, vinha a aumentar gradual e sucessivamente a taxa de juro de referencia para o crédito imobiliário, a Federal Funds Rate (FFR). Esta situação tem vindo a ser cada vez mais insustentável para muitas famílias, que não conseguem cumprir com o pagamento do empréstimo, mas também para os bancos que devido à crise deixaram de ter liquidez suficiente para conseguir sustentar o volume do crédito concedido e o próprio crédito mal parado. Como indicação disso mesmo o número de casos de incumprimento de crédito nos Estados Unidos aumentou 2,5 vezes no último semestre.

Em apenas dois meses assistiu-se a um rol de queixas de diversas entidades bancárias que se pronunciaram sobre o assunto, algumas das quais, principalmente as que detinham nas suas carteiras um maior número de créditos de alto risco concedidos, a solicitarem auxilio por parte dos seus bancos centrais afim de combaterem a crise. Os mercados bolsistas foram fortemente afectados por esta crise e acumularam quedas sucessivas, colocando-os no patamar mais baixo do último ano e tendencialmente a piorarem. Entre a espada e a parede o FED tinha de agir.

Para combater esta crise o FED viu-se obrigado a tomar uma posição que acalmasse os mercados, cortou finalmente na taxa de juro de referência (FFR) dos 5,25% para os 4,75%. Em comunicado o FED argumenta que esta decisão se justifica com o objectivo de “ajudar a prevenir alguns efeitos adversos sobre o conjunto da economia, que de outro modo poderiam surgir da agitação dos mercados financeiros e de promover um crescimento moderado a prazo”. Também o Banco Central Europeu segue a mesma linha de orientação do FED, o que acontece por diversos motivos, mas que podemos resumir justificando-o com a globalização dos mercados de capitais.

O que é certo é que a culpabilização de toda esta situação se deve única e simplesmente a uma tentativa da parte da reserva federal americana em saber qual o ponto de ebulição do mercado de crédito, resta entender se foi ou não premeditada. Todos sabem que nunca antes se fizeram tantos créditos, e que por exemplo uma boa parte dos americanos, tal como os portugueses, estão endividados, a questão é saber até que ponto foram salvaguardadas algumas questões essências que pudessem prever uma situação idêntica à que está a acontecer. A colocação superior a 33% do rendimento mensal de uma família para pagamento de um empréstimo é algo que por si só se revela arriscada. Facilmente se atinge uma percentagem incomportável, pois como aumento dos juros seguem-se aumentos “naturais” em produtos como o petróleo que, coincidência das coincidências, se encontra a rondar os valores mais elevados de sempre, ou os produtos alimentares, até mesmo os mais básicos como o pão. Ou seja, é menos dinheiro em carteira e mais onde o gastar, em suma, diminuição da capacidade de compra.

Mas não se pense que uma visão pessimista resume tudo isto. Vivemos numa altura de crise, é certo, mas estas alturas são definitivamente as melhores para se investir. É claro que me refiro a quem não necessita de pedir dinheiro emprestado para o fazer, não vá correr o risco de ao tentar fazê-lo no banco onde coloca as economias lhe responderem: “Dinheiro emprestado? Desculpe mas dinheiro não temos!” Haverá maior ironia que esta?