quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Alargamento da EU: Ameaça ou Oportunidade?


O dia 1 de Janeiro marcou o virar de mais uma página na história da Europa, assistiu-se ao seu alargamento a 2 novos estados membros: Roménia e Bulgária.

Desde a criação da Comunidade Económica Europeia que o projecto previa futuros alargamentos a países que cumprissem os requisitos predeterminados. Após várias fases de alargamento e consequente evolução das exigências de adesão, a União Europeia atinge agora um ponto considerado de estagnação da sua “expansão”. O objectivo principal é a sua consolidação como uma potência num contexto de globalização, quer económica quer geopolítica. Para tal surge a necessidade de uma união cada vez mais forte, consistente, com a capacidade de ser pluralista e unionista ao mesmo tempo.

Nesta fase, o dossier da constituição europeia, que muita polémica causou, tornar-se-á numa parte essencial. A constituição terá obrigatoriamente de ser acordada, aceite por todos os estados membros, para que seja possível a sustentabilidade que se demonstra fundamental para uma futura total integração política, social, económica e administrativa.

A definição de âmbito do Quarto Quadro Comunitário de Apoio atribuiu a Portugal uma última oportunidade para se modernizar e evoluir com a finalidade de colocar Portugal no pelotão da frente dos países da EU. Países como os dois novos membros iniciam agora o que se iniciou em Portugal à 21 anos atrás. Contam com o exemplo português de “como não fazer” e com um rigoroso controlo na distribuição das verbas.

Com a Roménia e Bulgária, as diferenças entre os países mais ricos e os países mais pobres acentuam-se ainda mais, comparativamente ao que aconteceu com as últimas 10 entradas. As especificidades das economias destes dois países podem representar para Portugal uma oportunidade ou uma ameaça, dependendo sempre do ponto de vista. Com taxas de crescimento a rondar os 5 % e com uma grande confiança no futuro, estes países poderão, a exemplo do que já acontece com alguns dos 10 membros que entraram em 2004, facilmente atingir um nível de desenvolvimento igual ou superior ao nosso. O exemplo mais nítido é o da Eslovénia que em apenas dois anos de adesão conseguiu facilmente cumprir todos critérios que lhe permitiram aderir à moeda única.

Este fenómeno, que alguém já apelidou de “cerco da economia portuguesa”, tem-se vindo a constatar sobretudo na área industrial, com a deslocalização para o Leste de várias unidades, principalmente na área automóvel e cablagens, indústrias de importância extrema na nossa economia, juntamente com o vestuário e calçado.

A Alemanha, nosso principal investidor durante anos, começa agora a prestar mais atenção à evolução dos países do centro e leste da Europa, e os primeiros grandes investimentos já foram consumados, quer em produtos com grande exigência de mão de obra e recursos naturais, na Roménia e Bulgária, quer em novas unidades industriais tecnologicamente mais avançadas e de grande produtividade, na Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria. Portugal tem obrigatoriamente que fazer o mesmo.

A oportunidade com que devemos olhar os novos membros começa cá, dentro do nosso território, com apostas em investigação e desenvolvimento, inovação de produtos e a formação e especialização de recursos humanos em áreas que possibilitarão mais tarde transformar Portugal um destino de referência em áreas onde até ainda ou já temos alguma importância internacional. O objectivo é potenciar o que temos de melhor e expandir, globalizar aproveitando novos países considerados “mercados emergentes”.

Áreas como as energias renováveis, a economia digital, a moda, a saúde, os componentes para o sector automóvel e até o turismo, terão obrigatoriamente que se afirmar num contexto global. Mas as oportunidades para a nossa economia não estão apenas na Europa de leste, os mercados emergentes estão hoje bem identificados e os sinais de crescimento económico são nítidos.

O Presidente da República visitou este mês a Índia fomentando aquela que é uma boa conjuntura para as empresas portuguesas, até pelas suas ligações históricas, mas poderia fazer e dizer o mesmo da China ou do Brasil. Hoje em dia a expansão para novos mercados deve fazer parte da missão de todas empresas que pretendem evoluir. Sem esta atitude incorporada, a vulnerabilidade perante a concorrência estrangeira, a estagnação e por vezes o eclipse podem facilmente acontecer tenha a empresa a dimensão que tiver.

sedento@hotmail.com